A Gênesis do Jardim do Éden
- Matheus Fernandes
- 7 de abr. de 2019
- 3 min de leitura

Este artigo me é particularmente especial. Isso porque o Jardim do Éden foi bairro em que morei durante a graduação na UNESP e onde vi e convivi com grandes juristas e historiadores. Me é particular também, pois foi primeiro bairro que morei longe de Guarulhos e São Paulo. Portanto, é completamente compreensível o carinho que tenho pelo bairro e, sobretudo, pela saudosa Avelino Algarte Banhos — alô gulaguianos!
O bairro jovem — que teve seu loteamento aprovado por um Decreto Executivo em 16 de janeiro de 1969 —, situado na Zona Norte de Franca, surge no bojo do desenvolvimento industrial da cidade. Com a alta demanda por trabalhadores para o parque fabril e a conseqüente migração para o município, percebeu-se um aumento da procura por unidades habitacionais.
À época, Franca vivia um intenso processo de crescimento populacional e, sobretudo, urbano. Para se ter noção, apenas entre 1965 e 1969, a cidade teria recebido 28 novos loteamentos aprovados — contra apenas 7 novos loteamentos entre 1960 e 1964. Isto é, foi um período onde, de fato, a cidade crescia um pouco a cada dia. Durante esse ciclo, os jornais da cidade tratavam de evidenciar e comemorar: era a expressão do progresso das grandes cidades alcançando o interior.
Todavia, nem tudo eram flores. O Jardim do Éden teria sido viabilizado, a priori, por meio de unidades habitacionais populares, onde havia uma parceria entre o Poder Público Municipal e o Estadual. Foi apenas quando os primeiros moradores lá se instalaram— a família Verzola, Trevisan e outras mais —, que foi percebido o hiato entre o projeto apresentado e as edificações dispostas.
As construções eram mal feitas, foram entregues recheadas de problemas hidráulicos e elétricos, sem levar em consideração a imensa quantidade de relatos de infiltração das casas. Faltava água, asfalto, ligação de esgoto, coleta de lixo e luz nas ruas.
Em razão desses problemas, os moradores se organizaram e partiram para cima da construtora. Montaram a SOAMOR EDÉN (Sociedade de Amigos Moradores do Éden) e reivindicaram condições descritas nas plantas e no decreto executivo, condições essas bem distintas da realidade concreta dos moradores — ainda que a SOAMOR EDÉN não tenha sido uma associação constituída juridicamente, ela teve papel muito relevante na luta por melhores condições de vida no bairro entre 1977 e 1980. Posteriormente à SOAMOR EDÉN, surgiu a CCJE (Coordenadoria Comunitária do Jardim do Éden). E, dessa vez, amparada pelas exigências legais para se tramitar qualquer tipo de reivindicação ou representação.
Mas, todos esse motivos não foram o suficiente para impedir a aglomeração no Jardim do Éden. A procura pelo bairro se agigantou e em apenas 1 ano depois do primeiro loteamento já se falava em lotear um prolongamento para o Jardim do Éden — coisa que teria sido realizada no dia 20 de janeiro de 1970. Não obstante, 7 anos mais tarde outro prolongamento seria exigido e aprovado — por meio do Decreto n° 3783 de 28 de janeiro de 1977 ficou aprovado a última extensão do bairro.
Atualmente, o Jardim do Éden não sofre dos mesmos problemas que outrora — embora alguns outros tenham surgido. Os moradores do bairro são receptivos e sempre dispostos a ajudar. O bairro é preenchido de comércios e, de quebra, você ainda pode contar com Supermercado Zezão — que funciona à la Supermercado São Paulo — e com a República Gulag, lar de ótimos juristas e historiadores melhores ainda.
Matheus Fernandes é Historiador, Representante de Franca no Sistema Estadual de Museus de São Paulo e Colunista do Jornal Diário Verdade
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