O Ilustre Abdias do Nascimento
- Matheus Fernandes
- 30 de jul. de 2019
- 3 min de leitura

Abdias do Nascimento é mais um dos presentes que Franca deu ao Brasil. Nascido em 1914, isto é, em plena República Velha (1889-1930), Abdias foi um cidadão pra lá de versátil. Além de artista plástico, também foi poeta, dramaturgo, professor universitário, político e um empenhado militante do movimento negro brasileiro. Morou nas terras do Imperador até completar 15 anos de idade, quando decidiu mudar-se para o Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 1929.
É durante os anos 30, já na capital, que inicia sua atuação política. A priori, se aproximou da Frente Negra Brasileira, onde fez de seu espaço político para concentrar esforços na luta antiracista. Foi também nesse período em que graduou-se em Economia em 1938 pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro e iniciou suas atividades no teatro, fundando em 1944, o Teatro Experimental do Negro (TEN) — que, entre os vários objetivos, tinha a intenção de inserir de fato a comunidade negra no ramo teatral, afinal, até o surgimento do TEM, eram os brancos com "black face" que retratavam os negros nas peças. O Teatro Experimental foi um sucesso e manteve suas atividades em pleno funcionamento até meados de 1961.
No campo das artes, sua iniciação se deu à partir do enlace de suas atividades. Isto é, inspirado pela cultura africana, começou a pintar no exato momento em que passou a realizar a curadoria do Museu de Arte Negra, nos anos 60. Suas primeiras obras foram muito influenciadas pelo amigo e poeta argentino, Efraín Tomás Bó — antigo companheiro da Santa Hermandad Orquídea, um grupo formado ainda nos anos 30 e composto por 6 artistas além de Efraín e Abdias, sendo, Godofredo Tito Iommi, Juan Raúl Young, Gerardo Mello Mourão e Napoleão Lopes Filho.

O poeta negro também foi um dos organizadores da Convenção Nacional do Negro — encontro realizado por dois anos no Rio e em São Paulo. Nessa oportunidade, fez a submissão de uma proposta à Constituinte de 1946: a tipificação da discriminação racial como crime de lesa-pátria.
Durante a ditadura militar, Abdias foi exilado(1968-1978) nos Estados Unidos, onde em 1969, tornou-se professor-conferencista da School of Drama na Universidade de Yale. Além disso, durante sua estadia nos EUA, foi professor visitante da Wesleyan Center of the Humanities e, posteriormente, professor universitário da Universidade do Estado de Nova Iorque — esteve atuando na UNY entre 1970 e 1982. Além disso, foi no exílio que, através de cartas e alguns encontros, tornou-se amigo pessoal de Leonel Brizola. Fato relevante, pois posteriormente, Abdias teria fundado junto ao gaúcho o Partido Democrático Trabalhista (PDT).
No retorno ao Brasil, fundou em 1981, o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros, que tinha como sede a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Além disso, sua carreira política já estava em alta. Foi eleito vice-presidente do PDT no mesmo ano, tendo concorrido no ano seguinte (1982) à Deputado Estadual no Rio de Janeiro. Posteriormente, já nos anos 90, assumiu a cadeira de Senador da República (1996-1999).
Infelizmente, Abdias veio à óbito em 24 de maio de 2011. Foi homenageado como o Patrono da Casa da Cultura e do Artista Francano como forma demonstrar toda sua relevância para a cidade. E pensar que houve quem defendeu o nome de Regina Duarte ante Abdias do Nascimento.
Matheus Fernandes é Historiador, Representante de Franca no Sistema Estadual de Museus de São Paulo e Colunista do Jornal Diário Verdade
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