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Cidade Nova: A República e o Progresso

  • Foto do escritor: Matheus Fernandes
    Matheus Fernandes
  • 14 de mar. de 2019
  • 3 min de leitura


In: Projeto urbano e memória coletiva: Cidade Nova em Franca. Franca, SP: Prefeitura Municipal, c2000. p. 53 - Disponível em: Arquivo Histórico Municipal 'Capitão Hipólito Antônio Pinheiro'

A cidade é um espaço de transformação coletiva desde os primórdios. A aglomeração de pessoas em torno de um mesmo local encontrou diversas justificativas históricas para se viabilizar. Em alguns períodos foram as guerras, em outros o plantio. O mesmo poderia ser dito com relação ao comércio, aos serviços e à habitação. Todavia, ainda que munidas de um justificativa bem arrojada, esse processo se deu ao largo da planificação.


Fato perceptível à grande maioria dos bairros que surgiram em Franca em fins do século XIX e começo do XX. Onde, marcados pela espontaneidade — isto é, pelo crescimento desarranjado — tiveram de se adequar aos tempos e, sobretudo, aos ciclos produtivos. Contudo, com a proclamação da República em 1889, as coisas mudariam um pouco.


As novas noções do que viria a ser o Estado, rapidamente passam a integrar o cotidiano brasileiro — seja pelo papel da imprensa ou por meio das transformações da política em si — e, junto delas, um enorme intento em apagar ou reescrever o passado. A sensação de que a razão será o guia ao progresso permeia os debates públicos e aponta para as novas possibilidades: planejar.


É justamente envolto nesse ideário que se estabelece, pela primeira vez, a proposta de precaver e controlar a expansão urbana em Franca. É, portanto, aos 28 de novembro de 1892 que o vereador Pereira Machado apresenta à Câmara Municipal o projeto da planta do bairro "Cidade Nova". E, os objetivos para tal eram vários: havia um interesse, por parte do Executivo, em controlar a expansão urbana da cidade para que não houvesse nenhum competição ou incompatibilidade do crescimento com o Centro da cidade; ao nortear o crescimento, esperava-se aliviar o adensamento populacional na Estação — que crescia de vento em popa; por fim, a área era estratégica e diminuiria bastante os custos da prefeitura na implementação de obras de infraestrutura — como água, energia elétrica e etc.


Entretanto, o projeto passaria por revisões e discussões na Câmara ao longo do começo do século XX e só teria sua entrega realizada na totalidade em meados de 1954, como mostra excepcionalmente a professora Linda Saturi — data que marca o asfaltamento, a alteração do uso do espaço e o adensamento populacional.


O próprio nome 'Cidade Nova', imprime o significado de algo diferente, sobretudo se o objetivo for criar algo com o intuito de distanciá-lo do que já havia sido feito — antes do período Republicano. E dessa foram ele foi pensado e executado, transformando-se em um marco urbano de Franca. Onde, essa renovação de concepção urbana tinha como horizonte prevenir o município de diversos problemas futuros — que vão desde a questão sanitária, por conta das condições insalubres que as cidades brasileiras viviam no início do século XX, até o planejamento que permita uma infraestrutura arrojada e suficientemente qualitativa.


O interessante desse processo, é que ainda que fortemente influenciado por ideias estrangeiras e com concepções nada razoáveis, como é o caso de Haussmann e sua propostas de higienização urbana — tanto do ponto de vista sanitário quanto social —, o efeito gerado em Franca foi inverso. Isto é, ainda que houvesse uma preocupação sanitária à época com a varíola, a cidade não passava por maus bocados. Nas palavras de Linda Saturi: "Enquanto no Rio de Janeiro tiveram que expulsar a população pobre para abrir a Avenida Rio Branco, aqui, ao contrário da reforma, vigorava a ideia de planejamento que abria a Avenida Rio Branco francana, como medida preventiva". Contudo, é preciso ser sincero, se não fosse todo este ensaio antes de sua viabilização, talvez a Cidade Nova não teria se transformado no espaço tão importante que é atualmente — hoje o bairro sedia a Prefeitura Municipal de Franca, o corpo de Bombeiros e a sede do Sindicato dos Servidores Municipais.


Hoje, um pouco distante dos longínquos anos 50, percebemos que faltam 'Cidades Novas' por aí, tanto em Franca quanto em qualquer outro município de São Paulo. Isto é, bairros planejados onde sua concepção é estruturada a partir do bem-estar coletivo e não do lucro. Se assim fosse, não teríamos a quantidade de problemas com deslizamentos, alagamentos e quaisquer outras questões ligadas à concupiscência. Mas, esse pessoal que gosta de planejar as coisas com cuidado e muita atenção está fora de moda. Afinal, quem ousaria acreditar em progresso coletivo no momento em que vivemos?



Matheus Fernandes é Historiador, Representante de Franca no Sistema Estadual de Museus de São Paulo e Colunista do Jornal Diário Verdade

 
 
 

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