Estação: A pujança da Modernidade
- Matheus Fernandes
- 29 de mar. de 2019
- 3 min de leitura

Que o bairro estruturado na Colina do Oeste Francano veio a se chamar Estação por conta da chegada da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, todo mundo sabe. No entanto, poucas pessoas sabem que ali, onde hoje ainda está situada a Estação, também existiram outras atividades antes da ferrovia. Havia um cemitério e um hospital construído na década de 1860 — o Lazareto.
Quando da instalação dos trilhos e, consequentemente, da utilização dos trens para transporte de cargas e pessoas começou, tudo naquela região viria a se transformar de uma vez por todas. A Estação — com a construção iniciada em 1886 e entregue em 1887 — trazia consigo os ares da modernidade e do progresso. Muito além do que a simples conexão de um bairro à outras cidades, ela tornou-se pólo para o desenvolvimento de Franca à época.

A dinâmica da cidade teria se alterado tão rapidamente, que em pouco tempo após a chegada da companhia, a Câmara Municipal já teria iniciado o loteamento dos primeiros terrenos — vale ressaltar que os primeiros terrenos foram oferecidos aos representantes da elite francana, isto é, fazendeiros e comerciantes. A prova é que em 25 de agosto de 1887, foram concedidas 3 cartas de data — título de aquisição de imóveis com algumas prerrogativas — aos senhores Caetano Petráglia, Thomaz José da Motta e Higino de Oliveira Caleiro. No ano subseqüente, os felizardos seriam os senhores Antônio Nicácio da Silva Sobrinho — conhecido como Major Nicácio —, Tenente-Coronel José Garcia Duarte — conhecido como Barão da Franca —, entre outros.
Em tempos de expansão da cultura cafeeira pelo interior do Estado de São Paulo, o bairro da Estação teria articulado, na cidade de Franca, três mundos distintos: o das oligarquias do café; o da difusão dos ideais liberais e republicanos; e, por fim, do recém descoberto mundo das máquinas. Esse sincretismo poderia ser traduzido, à época, na diferenciação do espaço urbano do bairro.

A conexão com a ferrovia ligava Franca à Campinas e, consequentemente, à São Paulo e ao Porto de Santos. Era a pujança do mundo moderno abraçando a Franca Capim Mimoso, tudo em um perímetro territorial delimitado. Os limites, como mostra o professor Fransérgio Follis, demarcavam "desde o Ribeirão dos Bagres até o alto espigão onde estava o prédio da estação ferroviária".
Velozmente os terrenos foram sendo ocupados. Parte deles — não a mais significativa — para uso residencial e parte deles para uso comercial. Trinta anos mais tarde, já no século XX, o bairro vivenciaria uma verdadeira efervescência industrial, dada a quantidade de indústrias e oficinas instaladas ali. Para que fique clara a dimensão do desenvolvimento representado pelo Bairro da Estação, na década 1920 apenas 4 novos loteamentos surgiram por parte da Prefeitura Municipal. Onde, dos quatros, três eram nas cercanias da Estação — Vila Chico Júlio, Vila Nicácio e Vila Santos Dumont. Para não falar de todo o glamour que fruía a localidade por conta da presença constante de autoridades Francanas e de outras regiões do Estado.
Hoje, o bairro da Estação segue implacável. Condensa em si comércios, bancos e repartições públicas de muita notoriedade. Mas, mesmo assim, não perdeu suas raízes, afinal, tanto a Estação Ferroviária — que infelizmente não funciona desde 1977 — quanto os Embaixadores da Estação lá permaneceram.
Matheus Fernandes é Historiador, Representante de Franca no Sistema Estadual de Museus de São Paulo e Colunista do Jornal Diário Verdade
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