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Leporace: o bairro do Povo

  • Foto do escritor: Matheus Fernandes
    Matheus Fernandes
  • 27 de fev. de 2019
  • 3 min de leitura


Trevo do Parque Vicente Leporace em fase de construção, início da década de 80 - Reprodução: Arquivo Histórico Municipal de Franca 'Capitão Hipólito Antônio Pinheiro'

Antes de transformar-se no Parque Vicente Leporace, as terras em que ele se encontra pertenciam à família Falleiros — no caso, à Mayda Falleiros Costa e seus filhos — e ao Sr. Milton Guerrieri Brigagão. Contudo, em meados dos anos 60, já é perceptível o impacto da grande expansão do setor calçadista na estruturação urbana da cidade — embora o grande boom da indústria tenha acontecido nos anos 70, não há como negar que alguns núcleos habitacionais populares já vinham sendo construídos para tentar atender essa demanda.


Segunda a historiadora Thaís Vaz: '[...] esses conjuntos habitacionais populares não vieram sanar o problema ao menos em sua maior parte, pois eram empreendimentos muito pequenos, e até o final da década de 70 e início da de 80 não foram realizados grandes empreendimentos dessa natureza'. Franca conheceria essa iniciativa por meio de algumas tentativas — o caso da 'Casas Populares' no local anexado ao Jd. Brasilândia na zona leste, as unidades do Jd. Pedreiras, Jd. Bueno e, posteriormente no Jd. do Éden. Tentativas essas que visavam estabelecer um horizonte razoável para acomodar o contingente populacional gigante gerado pelo avanço da indústria calçadista.


Mas, é preciso dizer, Franca não possuía uma infraestrutura capaz de acondicionar nem a população que aqui já habitava — diversos são os relatos de falta d'água, energia e pavimentação na imprensa da época —, muito menos esse excedente populacional trazido pela atividade calçadista. Em outras palavras, significa dizer que os problemas de infraestrutura se agravaram. Houve, inclusive, um debate nos anos 70 que apontava para a possibilidade das atividades industriais estarem comprometidas, justamente pela falta de loteamentos populares que atendessem os trabalhadores migrantes.


É nesse bojo que surgirá, portanto, o Parque Vicente Leporace — e tantos outros, afinal, segundo Daniel Silva, na época foram abertos 73 loteamentos na periferia, ocasionando um aumento do perímetro urbano de Franca em aproximadamente 2/3. Todavia, é preciso salientar, nenhum deles tinha a magnitude do Leporace — que, até então, havia sido o maior empreendimento urbano que Franca possuía.

Após o processo de desapropriação que havia sido findado em meados de 1976, o contrato assinado em 1977 pela Prefeitura em parceria com a CECAP iniciaria as obras. À época, estava previsto a construção de 1.027 unidades na primeira etapa — bancadas pela CECAP com a contrapartida de que a infraestrutura fosse garantida pelo executivo municipal.



In: VAZ, Tháis de Fátima. Parque Vicente Leporace. Franca: Prefeitura de Franca, 2006. p. 53. Disponível em: Arquivo Histórico Municipal 'Capitão Hipólito Antônio Pinheiro'


Já em 1983, a primeira fase — o Leporace I — e a segunda — Leporace II, com 457 unidades — estavam concluídas. O que, em outras palavras, significava dizer que 1.484 unidades já estavam prontas e com a infraestrutura finalizada. Restando apenas a terceira fase do empreendimento, responsável pela construção de 754 casas — o que totalizava um número de 2.238 unidades habitacionais, com capacidade de acomodação para aproximadamente 9.500 pessoas.


Em meados dos anos 90, o Leporace sofreria mais uma expansão. Dessa vez, seriam construídos 640 apartamentos visando suprir a demanda que não fora atendida pelas três fases anteriores. O custo da obra foi orçado em 600 milhões de reais e tinham como contrapartida o impeditivo de venda por parte dos beneficiados pelo projeto — a justificativa municipal para tal pressupunha que quem havia ficado sem imóvel não tinha condição de arcar com os custos integrais da mesma. Contudo, a regra foi revista e em 1991, um anúncio veiculado pelo Diário da Franca dizia que os moradores poderiam quitar suas casas por 50% do valor e, caso fizessem, se tornariam donos para todos os efeitos legais — tendo direito a alugar ou vender sua propriedade caso houvesse interesse.



Ginásio de Esportes 'Angelo Tornatore', ao lado da Associação de Moradores do bairro. In: VAZ, Tháis de Fátima. Parque Vicente Leporace. Franca: Prefeitura de Franca, 2006. p. 53. Disponível em: Arquivo Histórico Municipal 'Capitão Hipólito Antônio Pinheiro'


Por fim, mas não mesmo importante, para entender o nome de batismo do bairro, é preciso resgatar a história do 'Delegado do Povo'. Isto é, Vicente Frederico Leporace — um jornalista e radialista nascido em São Tomás de Aquino, mas que dizia ser, de 'peito aberto', filho de Franca. Fora conhecido como grande interventor das questões públicas, sempre em defesa do povo e dos trabalhadores. Seu momento de maior destaque foi durante a exibição de seu programa 'O Trabuco', onde comentava e noticiava os acontecimentos da Franca e do Brasil como um todo. Fez desse programa um espaço de defesa do povo mais carente e seguiu firme em sua missão — dar voz e vez à população historicamente excluída. Em razão de sua morte, em 1978, seu nome foi escolhido para representar o bairro — mais populoso e importante da cidade na época — dos trabalhadores industriais de Franca.



Matheus Fernandes é Historiador, Representante de Franca no Sistema Estadual de Museus de São Paulo e Colunista do Jornal Diário Verdade


 
 
 

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