Vila 'Tião': Uma História de Luta
- Matheus Fernandes
- 22 de mar. de 2019
- 2 min de leitura

A história da Vila São Sebastião remonta à um passado longínquo e um tanto quanto nebuloso. Isto pois não se sabe, ao certo, de quando data a pequena aglomeração que deu origem ao bairro. Sabe-se que é bem antiga e que o terreno era de propriedade de Dr. Antonio Arruda, Moacyr Alvarenga de Figueiredo e João Ferraciolli. Entretanto, poucos são os registros que dão luz às questões colocadas acima.
Oficialmente, o bairro só se transformaria em bairro de fato no final do anos 60. Isto é, mais precisamente em 31 de dezembro de 1969, data em que consta a assinatura do protocolo nº532/69, do talão 144/70 do Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Franca.
Evidentemente, antes da regularização do loteamento havia significativa quantidade de pessoas na Vila 'Tião'. Mas, se dependesse da apenas da Prefeitura de Franca, até hoje poucos seriam os relatos da região, afinal, a demora na sua regularização não se tratou de mero dissabor. Pelo contrário, à época, com as altas taxas de crescimento da indústria calçadista e, consequentemente, da demanda por trabalhadores — que chegavam na cidade e se instalavam como podiam, haja vista a formação de diversas aglomerações nas periferias de Franca nesse período — a organização urbana foi deixada de lado e, os moradores da periferia, colocados de escanteio.
A narrativa da Vila São Sebastião se mescla de maneira ímpar com as narrativas dos moradores do bairro. Acontece que desde cedo, ambos tiveram de lutar para galgar seu espaço na cidade de Franca. Seja por meio dos conflitos com a prefeitura para a garantia das obras mínimas de infraestrutura — escolas, pavimentação, iluminação e etc —, seja por meio da autonomia que teve de desenvolver para não ficar para trás.
Relendo os jornais dos anos 70, 80 e, principalmente, dos anos 90, você irá se deparar com uma série de denúncias com relação às debilidades do bairro. Isto pois a prefeitura o regularizou e imaginou ter findado suas obrigações na região.
O jogo iria começar a virar quando da fundação da SABSS (Sociedade de Amigos do Bairro São Sebastião), o centro comunitário do bairro, em 08 de setembro de 1970. O resultado da parceria dos moradores do bairro com os alunos da UNESP — estudantes de serviço social à época — foi muito relevante. Mas, com o passar do tempo, perceberam que apenas o centro comunitário não seria suficiente para atender às necessidades da população — em 1992, a rua Amélio Borges Campos ainda sofria com esgoto sendo despejado a céu aberto.
Em função disso, elegeram um vereador para que houvesse, na Câmara Municipal de Franca, um representante dos trabalhadores do bairro. Seria ele Gilson Pelizaro — um rapaz que ainda menor de idade já teria se tornado líder comunitário do bairro —, o homem que tanto aparece nos jornais reivindicando melhorias para a região.
De lá pra cá, muita coisa mudou. A Vila 'Tião' não parou de crescer e hoje é dotada de comércios, de uma vasta população que se identifica com o bairro e, sobretudo, de um espírito de luta inabalável.
Matheus Fernandes é Historiador, Representante de Franca no Sistema Estadual de Museus de São Paulo e Colunista do Jornal Diário Verdade
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