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E agora, José?

  • Foto do escritor: Matheus Fernandes
    Matheus Fernandes
  • 19 de jan. de 2019
  • 3 min de leitura


Estação da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro em 1925 - Reprodução: Arquivo do Museu Histórico Municipal 'José Chiachiri'

Não há uma alma viva sequer que ouse dizer que a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro não tenha tido relevância para a cidade de Franca. Justamente por compreender que a Companhia constituída por produtores de café decidiu chamar para si a responsabilidade de ligar o Oeste Paulista à Capital. Dessa forma, o primeiro trecho da linha principal ligou Campinas à Jaguariúna em meados de 1875. Seguiu por Casa Branca (1878) e Ribeirão Preto (1883) até alcançar Franca no ano de 1887.


Com a chegada da ferrovia, o ciclo colonial apontava para seu fim e dele despontava um novo ciclo. Desde 1890, a organização urbana de Franca passou a assumir outro contorno dado que o poder público assumiu a tarefa de adequar a cidade às novas demandas da modernidade. Fruto desse processo, da pequena cidade de 7 mil habitantes com míseros 146.152,40 contos de réis de arrecadação em 1903, surgiu a cidade de 18.072 habitantes com 1.114.000,00 contos de réis arrecadados em 1936.


A Mogiana possibilitou não só a expansão urbana, como possibilitou também a aglomeração de parcela significativa dos recém chegados no município. Com a presença de italianos, negros e sírios, a Franca assistiu à proliferação das atividades comerciais no eixo centro-estação. Dos armazéns atacadistas às pequenas oficinas e manufaturas dos imigrantes, foi se desenhando o que viria a ser a consolidação de um grande centro econômico capaz de concorrer com a secular área da colina central.


Mas, não para por aí. Para se ter noção da relevância da ferrovia, 3 dos 4 novos loteamentos da década de 20 — Vila Chico Júlio, Vila Nicácio e Vila Santos Dumont — foram em torno do bairro da Estação e justamente por conta da estação. O ímpeto de trazer a modernidade aos modernos francanos, trouxe também uma nova concepção de espaço urbano. Muito mais avançada e, ao mesmo tempo, muito mais dinâmica. Ao passo que ao inovar do ponto de vista arquitetônico, também possibilitava a consolidação de uma série de saberes próprios da modernidade.


O estilo industrial europeu em alvenaria deixava aparente o uso de tijolos nos arranjos das construções inglesas. As plataformas, quase sempre em madeira ou ferro, demonstravam a simplicidade dos elementos decorativos da Estação Ferroviária. Além de permitir identificar o rigor técnico característico desse lampejo de modernidade.


O prédio adquiriu as feições que nós conhecemos em 1939, durante a última reforma que a estação ferroviária receberia. E, dessa vez, com ares mais modernos e com fortes influências do estilo art-noveau — característico por utilizar formas orgânicas, seja pelos pedaços irregulares de vidro e ou pelas estruturas metálicas expostas.


Em 15 de fevereiro de 1977 o último trem de passageiros faria o trajeto e em 1980 se encerraria a movimentação dos trens de carga. Em 1988 seus trilhos foram removidos e transferidos à linha do Vale do Bom Jesus em Pedregulho.


Hoje, o prédio se encontra no mesmo estado da história local: desprezado. Os problemas vão desde a pintura até a estrutura, que há muito tempo esta sendo desgastada pela negligência e ação do tempo. Não tenho dúvidas que, se o prédio pudesse nos dizer algo, nos diria que está cansado. Cansado de promessas, cansado de omissão e, sobretudo, cansado da inércia das gestões municipais. De quase Centro Cultural à quase Subprefeitura, a Mogiana e a população sonham com uma viagem de reencontro aos dias atuais.




Matheus Fernandes é Historiador, Representante de Franca no Sistema Estadual de Museus de São Paulo e Colunista do Jornal Diário Verdade


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