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Memória, o que resta?

  • Foto do escritor: Matheus Fernandes
    Matheus Fernandes
  • 19 de jan. de 2019
  • 3 min de leitura



Entrada principal do Museu Histórico Municipal 'José Chiachiri' - Reprodução: Arquivo do Museu Histórico Municipal 'José Chiachiri'

Em 1896, ergueu-se no coração da cidade de Franca, o prédio projetado pelo renomado arquiteto francês Victor Dubugras. Naquele momento, a construção marcava as intenções da recém proclamada república e apontava para a necessidade de espalhar pelo território nacional repartições públicas que representassem a presença do Estado brasileiro.


Embora fosse desenhado para desempenhar a função de Cadeia Pública, a edificação em estilo eclético — predominante na transição de meados do século XIX para as primeiras décadas do século XX, combina elementos da arquitetura clássica, renascentista, medieval e neoclássica. Mesmo que as maiores influências residam na reminiscência da arquitetura neo-romântica — desempenhou outras tantas funções ao longo de sua trajetória.


Abrigou a Cadeia Pública e o Fórum Francano até 1913. Em seguida, recebeu a Prefeitura e a Câmara dos Vereadores quando criado o Paço Municipal Rui Barbosa. Permanecendo lá até a construção e, posteriormente, transferência da sede ao atual prédio na Avenida Presidente Vargas. Em paralelo, a cidade assistia a criação do Museu Histórico pela promulgação da lei municipal nº 656 de 13 de setembro de 1957 — fruto de um intenso processo de reconhecimento da relevância de conservar, preservar e expor tudo aquilo que outrora fez Franca ser o que é hoje.


Inicialmente, o Museu foi instalado à Rua Dr. Júlio Cardoso onde fora a antiga residência do Capitão Acácio Alípio Pereira, tendo sua inauguração realizada no dia 9 de março de 1959. É nesse momento que duas histórias se cruzam para nunca mais se separar. Com a transferência do Paço Municipal Rui Barbosa à atual sede, abriu-se a possibilidade do Museu Histórico Municipal receber, de uma vez por todas, um lugar para se instalar definitivamente.


A substituição de funções da antiga construção situada à Rua Campos Sales com a General Osório, viria a se efetivar em 28 de novembro de 1970. Em 1976, quatro anos após o falecimento de seu maior entusiasta e fundador, José Chiachiri, o prédio então seria batizado de Museu Histórico Municipal "José Chiachiri".


De lá pra cá, não foram poucas as atividades que buscaram reconectar o velho Sertão do Capim Mimoso aos dias atuais da Franca. Seu acervo efetivo conta com mais de 4.000 peças, entre elas: documentos históricos que vão desde a Estrada dos Goyazes até os jornais de hoje em dia; fotografias; mobiliário; indumentárias da participação dos pouco mais de 700 Francanos em 1932 e diversas outras coleções de objetos etnográficos e arqueológicos da história regional.


No entanto, a atual condição do prédio é dramática. Sua função vem sendo alternada entre espaço de promoção e salvaguarda da cultura histórica da cidade e depósito das águas de São Pedro. Se tornando ainda mais preocupante, quando levado em consideração que o prédio de 122 anos passou pela última reforma na década de 1990.


Se seguir nessa toada, em poucos anos a memória da cidade definhará e, junto dela, parte daquilo que faz seus cidadãos se sentirem em casa. Por isso, antes que soe o apito final, vá ao Museu. Esse aviso é para os que não vacilam mesmo derrotados, sobretudo aqueles que já perdidos nunca desesperam. É para quem tem consciência para ter coragem e inventar a contra-mola que resiste. Afinal, que fim mesmo levou o Museu Nacional do Rio de Janeiro?




Matheus Fernandes é Historiador, Representante de Franca no Sistema Estadual de Museus de São Paulo e Colunista do Jornal Diário Verdade


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