Santa Cruz: do gado ao Samba
- Matheus Fernandes
- 8 de mar. de 2019
- 3 min de leitura

É de conhecimento popular, e erudito, que a grande parte das cidades — e, por consequência os bairros pertencentes à elas — tinham sua fundação datada do momento em que se erigia uma capela. Assim, portanto, não poderia ser diferente ao bairro da Santa Cruz — comunidade tão importante para Franca. De acordo com o Professor Dimas Batista, sua origem remete ao longínquo ano de 1858, quando data da passagem da escritura das terras de Antonio Agostinho e Maria do Carmo de Jesus à Luciana Pires e Isabel R. Conceição.
Quanto aos limites da Santa Cruz, é preciso dizer que só puderam ser delimitados na historiografia com precisão no início do século XX. Isto pois a quantidade de documentos que se dispõe da origem do bairro é até hoje escassa se comparada com outras regiões. Dito isso, partiremos à história do bairro situado ao sudeste da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Franca.
O interessante do bairro, é perceber que fora povoado, inicialmente, por pessoas em condições bem frágeis do ponto de vista econômico — mantidos, sobretudo, pelo plantio de café e pelo cultivo do gado do tipo vacum. Ou seja, era a população mais simples de Franca que morava lá. E as comprovações são várias, como demonstra brilhantemente o Professor Dimas por meio dos inventários de: Eugenio Rodrigues Barcellos, Francisco Lourenço Pinto, Maria Joanna da Conceição e assim por diante.
Se tratava, portanto, de um bairro suburbano — pois estava 'distante' do centro e alijado das obras de infraestrutura da época — residencial e extremamente popular. E, justamente por isso, suas benfeitorias só começam a aparecer no início do século XX. A avenida Sta . Cruz, por exemplo, só teria sido finalizada — com reconhecimento do fim das obras por parte da prefeitura — em meados de 1909. O mesmo poderia ser dito quanto às escolas que lá surgiram ou quanto às obras de grandes proporções. A Escola Estadual Ângelo Scarabucci — uma das mais antigas e mais relevantes escolas do bairro —, a título de exemplo, só teria sido inaugurada em 1954 — à época, levava o nome de GESC do Bairro Santa Cruz.
Mas, embora o bairro tenha demorado a se estruturar, no momento em que isso acontece, rapidamente percebe-se uma certa efervescência cultural, sintetizada no surgimento da Escola de Samba Aliados da Santa Cruz — várias são as atividades culturais registradas no bairro, entretanto, a escola de samba é de longe a que ganhou maior destaque — em 1976. A campeã do carnaval Francano em 1984 e 1985 — à esta altura, o liceu do samba francano só tinha 9 anos de existência — receberia menções honrosas e projetaria o bairro à cidade inteira, virando notícia em todos os tablóides do período.
Nessa mesma toada, chega ao bairro o complexo do Serviço Social da Indústria (SESI) em 1986 — após o convênio firmado com a Prefeitura de Franca. Fato que só contribuiria mais para a dinamização das atividades socioeconômicas e culturais do bairro — ao se instalar na cidade, o SESI inicia suas atividades oferecendo desde o Centro Educacional às crianças da Santa Cruz, até o Centro Esportivo suficientemente munido para a prática de diversas atividades desportivas.
Hoje, o bairro — situado entre os logradouros: R. Everton de Paula Merlino, Av. Santa Cruz, R. Pedro Schiratto, Av. Eliza Verzola Gosuen, Av. Ângelo Pedro, R. André Marconi, R. Laura Guimarães e R. Agnelo Morato — ainda mantém sua identidade. A mesma identidade que outrora fora concebida, porém, com leves mudanças em sua composição social — no século XX, rapidamente o bairro passa a receber grande parte dos trabalhadores da indústria calçadista, fato que só se alteraria com o surgimento dos conjuntos habitacionais como o Leporace e assim por diante. Quanto ao samba, não podemos dizer que se manteve o mesmo, afinal, a qualidade e o número de Aliados da Santa Cruz só aumentou de 76' pra cá.


Matheus Fernandes é Historiador, Representante de Franca no Sistema Estadual de Museus de São Paulo e Colunista do Jornal Diário Verdade
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