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Tudo outra vez, outra vez

  • Foto do escritor: Matheus Fernandes
    Matheus Fernandes
  • 19 de jan. de 2019
  • 3 min de leitura

Edifício modernista da Associação dos Empregados do Comércio (AEC). Reprodução: Jornal Comércio da Franca 25.09.10

Franca já tinha quase um século de história quando se começou a pensar na construção de um edifício para a Associação dos Empregados do Comércio (AEC). Isso porque a elevação de Franca à condição de cidade, de fato, se dá com a promulgação da lei provincial nº 21, de 24 de abril de 1856 . Enquanto a construção do simbólico imóvel se deu no ano de 1954.


Situado em ponto estratégico, o prédio da AEC encontrava-se na esquina das ruas Monsenhor Rosa com a General Osório. Foi lá que fez morada na memória do francano e passou a integrar seu cotidiano. Na época de sua construção, o centro viva uma efervescência econômica e era ocupado por uma maior diversidade das atividades exercidas. O espaço que antes era composto pelo comércio, pelos curtumes e pela indústria, cedia lugar agora para algumas residências e para a expansão do setor comercial em função da saída das fábricas e tanarias.


O clube que após a década de 40 ganhara tamanha projeção, o fazia por preencher um vácuo cultural que a cidade possuía. As festas como o Carnaval, o Reveillon, o Baile do Branco, Baile de Aniversário e o Baile da Saudade, ficaram tão famosas que em pouco tempo passaram a receber não mais apenas os comerciantes, mas toda a população local, com exceção do público mais elitizado.


Foi diante dessa finalidade que o clube dos empregados do comércio começou a deslanchar. Não só como referência na cidade de Franca, mas também na região. O que também se explica pela vinda de diversas bandas que existiam no Brasil, a exemplo de Pedrinho de Guararapes, Continental de Jaú, Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto e da Placa Luminosa. Além das grandes bandas do Rio de Janeiro da época da Rádio Nacional. Em concomitância, foi também no prédio da AEC que aconteceram as primeiras peças teatrais da cidade, uma vez que aqui ainda não havia o teatro municipal.


Essa polivalência da AEC, portanto, atribuía a ela não só a condição de patrimônio histórico, mas também de pólo cultural moderno e arrojado. A começar pelas atividades artísticas desenvolvidas em sua sede, até a prestação de serviços que o clube reunia dentro de si. Biblioteca, barbearia, cinema, teatro, lanchonete, churrascaria e um enorme salão de eventos para conferências eram parte constitutiva de sua edificação.

Contudo, a AEC não se tornaria o fenômeno que os cidadãos francanos conhecem apenas por oferecer uma enorme gama de atividades, embora tais serviços fossem muito atrativos para a população. Todo seu glamour também era reflexo de sua espécie arquitetônica extremamente rara em meio ao ecletismo e art-decô que dominavam a paisagem de Franca.


O prédio foi construído pelo arquiteto boliviano Carlos Lake, depois de ter vencido o concurso de projetos promovido por João Palermo Jr. à frente da associação. Lake reunia em seu projeto, todos os elementos que possibilitavam conceituar o edifício como representante do modernismo. Os pilotis no térreo, uma grande fachada de vidros, a platibanda (que permite esconder o telhado da vista da rua), o brise-soleil (para controle de luminosidade) e os famosos cobogós (tijolos vazados que permitem uma maior ventilação), atestam o empenho do arquiteto em abraçar os princípios racionais e funcionais modernistas.



No entanto, tudo isso se foi. Sob o pretexto do progresso e modernização, o modernismo foi deixado de lado. Depois das sucessivas reformas em 1987, 2002 e 2010, o outrora emblemático prédio da AEC foi se descaracterizando. Deixou para trás toda a assimilação histórica que pôde aglutinar ao longo desses anos, restando apenas a saudade enorme de um período em que a centro da cidade vivia em polvorosa. Hoje em seu lugar, está uma loja de 1 real. Dito de antemão, nada contra as lojas de 1 real, mas acredito que a AEC valesse um pouco mais do que isso.





Matheus Fernandes é Historiador, Representante de Franca no Sistema Estadual de Museus de São Paulo e Colunista do Jornal Diário Verdade

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